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Eu vivenciei a ditadura. Nasci em 1955 e, com apenas 9 anos de idade, vi a estagnação do processo democrático com a cassação dos grandes políticos brasileiros, como é o caso de Juscelino Kubitschek e muitos outros. Eu via as notícias e me empolgava no sentido de saber por que as pessoas que faziam grandes feitos e obras eram perseguidas e tudo o mais. Meu pai era um homem semi-analfabeto, mas era muito politizado: ouvia "Voz do Brasil" e discutia com a vizinhança sobre os interesses do Brasil com relação aos Estados Unidos, a Rússia etc. Eu o escutava sempre discutindo, no barbeiro, na feira. Eu cheguei a Brasília em uma situação muito delicada, pois acabara de perder meu pai, no dia 9 de setembro de 1972. Em fevereiro de 1973, com apenas 17 anos.

TEXTOS: Rubem Azevedo Lima

 
RUBEM AZEVEDO
LIMA - Correio Braziliense 
 04/04/2011


No começo da semana passada, a imprensa mostrou vários problemas que preocupam, hoje, os brasileiros. O Correio Braziliense falou das usinas nucleares sem licença; dos golpes contra o INSS facilitados pela lei e dos desvios de recursos na construção de rodovias.
Outros veículos trataram da greve de protesto dos trabalhadores em programas da PAC, em vários estados, em condições subumanas e sem receberem salário. Da troca do presidente da Vale. Como se vê, não faltam, no Brasil, problemas para a presidenta — como a própria gosta de ser chamada — resolver.
Este escriba respeitou o prazo de cem dias da administração Dilma, tratando-a com consideração, tanto mais que a presidenta nos livrou do estilo Lula, de ocupar os meios de comunicação de massa a qualquer pretexto. Sua parlapatice — ufa! — cansava e ainda nos livramos da legião de ditadores que o cercavam.
A cobrança de resultados da presidenta começa dia 11 próximo. Até lá, esperemos o que ela fará dos problemas herdados de Lula. Em Lisboa, ele criou outro: pediu que Dilma ajudasse Portugal a sair da crise e a FIFA viu atraso na execução dos planos de Lula para o mundial de futebol.
O Supremo decepcionou, pois repeliu, por inconstitucionalidade, a Ficha Limpa nas eleições de 2010. Mas, com isso, o STF deu sinal de que não aceitará mais que a esmagadora maioria governista no Congresso viole os direitos constitucionais da minoria, como um rolo compressor.
Nesse caso, o Congresso pode voltar a funcionar livremente, sem brecar iniciativas da oposição. Não se acobertarão mais desvios e malfeitos na execução de projetos sociais, econômicos e administrativos, permitindo-se ao Brasil de Dilma avançar, em termos políticos e de democracia.
Quem sabe se o Congresso e/ou o STF não anulam os últimos atos de Lula, revelados no Senado? A senadora Ana Amélia mostrou que o governo, até o dia 10 próximo, tungará, dos estados e municípios, restos a pagar que lhes deve, deixando-os à míngua. O senador Álvaro Dias mostrou que Lula desviou R$ 21 bilhões do erário, para pagar parte da dívida interna que ele mesmo criou. Duas vergonhas na herança de Lula.
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A Tragédia da Corupção
Correio Braziliense 
 11/04/2011

Como seu amigo, senador Collor de Mello, que usou a caça aos “marajás”, para eleger-se presidente, Lula, falso esquerdista, que manteve todas as medidas conservadoras dos governos anteriores, fez o mesmo com o fantasma da direita no Brasil e elegeu-se.
Lula fora avisado pelo então deputado Roberto Jefferson e o atual governador Marconi Perillo, de Goiás, sobre os ratos da quadrilha do mensalão. De Jefferson, Lula disse que poria sua mão no fogo pelo deputado, mas fingiu não acreditar em sua denúncia.
Agora, engastalhado entre a revelação dos federais e a visão do procurador da República, que chamou seus amigos envolvidos no mensalão de “quadrilha de bandidos”, Lula faz graça com o processo contra essa quadrilha, nas mãos do ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal, que o relatará.
Lula não sabe, mas os federais acharam o elo que faltava: a origem do dinheiro do mensalão, o Fundo de Incentivo Visanet, do Banco do Brasil, portanto, dinheiro público, protegido, em tese, mas não na prática, por seu governo. Pode-se dizer, hoje, que o mensalão, sob a “cegueira” de Lula, foi o maior escândalo da República, no Brasil.
Tal episódio torna a era Lula quase tão corrupta quanto a de Macbeth, de Shakespeare, que, aliás, tinha também sua “direita”: todos os seus opositores e alguns inocentes, que ele liquidou, um a um, enquanto pôde, até chegar sua vez de sair de cena, desmascarado.
Não se sabe como vai acabar nossa tragédia. A de Shakespeare, cruenta, acabou politicamente bem. Dilma jurou combater a corrupção no país. Espera-se, pois, que nossa tragédia não acabe em comédia, na qual o bobo da corte não seja o Tiririca, mas todo o povo brasileiro.

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Espelho na história

Autor(es): Rubem Azevedo Lima

Correio Braziliense - 18/04/2011

A presidente Dilma completou, em Atenas, seus primeiros 100 dias de governo, durante os quais se recomenda, politicamente, um mínimo de tolerância na crítica a quem governa. Ela não poderia ter escolhido melhor paragem, o mundo helênico, antes de seguir para a China, contraponto da milenar democracia ateniense.
Um dos símbolos da cultura grega, também mulher, foi Hipácia, nascida em Alexandria, filósofa aristotélica, matemática e geômetra, mártir da intolerância religiosa, no ano 415 d.C., esquartejada e queimada nas ruas daquela cidade pelo fanatismo religioso.
Segundo Edward Gibbon e Sócrates Escolástico, Hipácia, nascida em 370 d.C., “aos 45 anos, num dia de páscoa, foi arrancada de sua carruagem, desnudada e massacrada por uma horda de fanáticos religiosos, que a levaram nua para a igreja e, com ostras afiadas, desossaram-na viva, atirando seus membros às chamas”.
Sobre esse acontecimento, o cineasta espanhol, Amenábar, lançou, em 2009, o filme Ágora, contando a tragédia de Hipácia, quase sem fugir à realidade cruel dos historiadores. Dilma deve saber muito bem de quanto qualquer fanatismo é capaz, para defender-se, afirmar-se e impor-se à maioria. Outros países e o Brasil passaram por isso e sistematicamente deram-se mal.
Antes da viagem à China, Dilma reiterou três compromissos que assumia, entre outros da campanha eleitoral: combate à corrupção; aperfeiçoamento do ensino e da cultura no país; e melhora da frágil saúde dos brasileiros, sem hospitais, às vezes exposta à sanha da criminalidade, como os alunos da escola de Realengo, no Rio.
Findos os cem dias, chegou a hora da cobrança. Espera-se, desde logo, que a coragem das ideias de Hipácia, paladina do saber e da cultura, mantenha Dilma fiel às opções por ela citadas. E que, no caso, ao contrário de Hipácia, a presidente faça, com sua maioria, o que a filósofa, em Alexandria, não conseguiu fazer: dar a seu povo as melhores condições possíveis para desenvolver-se, livre de ódios e fanatismos, que então matavam a liberdade.

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Nada de novo - Rubem de Azevedo Lima
Correio Braziliense - 25/04/2011


Este ano, o Pulitzer não premiou o furo jornalístico. Também pudera:
nos EUA, desencavaram uma entrevista com Charles Manson, aquele que
mandou quatro de seus discípulos no crime matarem a atriz Sharon Tate,
casada com Roman Polanski e grávida de oito meses, em 1969.
O advogado de Manson, o italiano Giovani Di Stefano, defendeu também a
causa de Saddam Hussein, do Iraque, condenado à morte na forca.
Manson, o esperto, em prisão perpétua, se disse uma erva ruim que não
morre e que Obama é um "idiota e escravo de Wall Street".
No Brasil, no mesmo dia da entrevista de Manson, em 18 de abril,
deu-se a notícia de que o senador Aécio Neves, flagrado pela polícia
de trânsito, no Rio, ao sair, com a namorada, de uma boate e entrar em
seu carro, com a habilitação vencida, negou-se a fazer o teste do
bafômetro e contratou um motorista profissional para dirigir o carro.
Foi a bomba política do país na semana. Após seu recente discurso
feito no Senado, Aécio — digamos assim — vacilou, mas a Secretaria de
Trânsito, do Rio, não: logo deu nota à imprensa, pondo mais sal no
imbróglio.
O governador do Rio, Sérgio Cabral, que se diz amigo de Aécio,
elogiou-o, fazendo o papel de bom moço. Aquele, que, no pleito em que
se reelegeu, decretou feriado desde sexta-feira, para os eleitores do
adversário, Fernando Gabeira, viajarem para as praias do Rio e não
votarem. A manobra, ignorada pela Justiça, deu certo e Gabeira perdeu.
Cabral, o governador oba-oba do ex-presidente Lula, pelo jeito acha
que Aécio, com isso, é carta fora do baralho na eleição presidencial
de 2014. Ele dá sinal de sentir-se como o malandro carioca que, nos
velhos tempos do século 20, vendeu bonde a um mineiro rústico.
Quem viu e ouviu Aécio falar no Senado, por mais de seis horas,
criticando o governo e respondendo a todos os apartes que lhe deram,
com firmeza, sempre com pertinência e alguma ironia, não devia fazer
dele julgamento como o que parece o de Cabral. Afinal, essa pode não
ser a estória do mineiro logrado, mas a do carioca otário e
pretensioso, que faz pouco da inteligência alheia.

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Bombom ou Cicuta
Correio Braziliense - 02/05/2011
Autor (es): Rubem Azevedo Lima
A presidente Dilma prometeu, há dias, combater vigorosamente a inflação, mas não explicou como o fará. Criaram-se já algumas medidas (juros mais altos nos empréstimos e compras a prazo etc.), mas nada contém o ímpeto de consumo e os preços não param de subir nos mercados.
Claro, Dilma recebeu de Lula uma bomba de alto poder explosivo, com os quadros partidários e o apetite pantagruélico de aliados famintos. Além disso, seu antecessor, demagogicamente, assumiu o compromisso de realizar obras faraônicas, futuros elefantes brancos, impostos pela Fifa, para sediarmos o Campeonato Mundial de Futebol em 2014 e, depois, as Olimpíadas de 2016.
Tais obras, além disso, para não atrasarem, não serão acompanhadas pelo Tribunal de Contas da União. Prevê-se, por isso, que os custos finais de todas (estádios, rodovias, aeroportos, trens-bala, alojamentos para atletas e turistas) sejam, no mínimo, o dobro dos cálculos mais otimistas, em termos de honestidade.
Além dessas obras, há o compromisso de outras, como a construção da usina de Belo Monte, na Amazônia, condenada por ambientalistas e indígenas da região; a transposição do Rio São Francisco para o interior do Nordeste, que demandará a construção de uma elevatória caríssima, para levá-lo a esses confins; e a refinaria General Abreu e Lima, da Petrobras, em Pernambuco, pedida a Lula pelo presidente Chávez, da Venezuela, que, ficou de financiá-la, mas, até agora, não pôs um centavo de bolívar na obra.
Resta aos brasileiros esperarem a conjugação de alguns milagres, como a contenção da inflação e o fim das obras futebolísticas e olímpicas ou políticas a tempo, para o país não passar por vexame algum.
Quanto a Dilma, para o mundial de futebol, restam-lhe menos de três anos e dois meses para sua abertura, entre Rio de Janeiro, Minas ou São Paulo.
Mas a economista americana Carmen Reinhart (autora, com Kenneth Rogoff, do livro Oito séculos de delírios financeiros) disse à Folha que “os países emergentes (como o Brasil) lidarão com uma faca de dois gumes: a entrada enorme de capital estrangeiro”. Enfim: um bombom ou cicuta para todos nós.