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Eu vivenciei a ditadura. Nasci em 1955 e, com apenas 9 anos de idade, vi a estagnação do processo democrático com a cassação dos grandes políticos brasileiros, como é o caso de Juscelino Kubitschek e muitos outros. Eu via as notícias e me empolgava no sentido de saber por que as pessoas que faziam grandes feitos e obras eram perseguidas e tudo o mais. Meu pai era um homem semi-analfabeto, mas era muito politizado: ouvia "Voz do Brasil" e discutia com a vizinhança sobre os interesses do Brasil com relação aos Estados Unidos, a Rússia etc. Eu o escutava sempre discutindo, no barbeiro, na feira. Eu cheguei a Brasília em uma situação muito delicada, pois acabara de perder meu pai, no dia 9 de setembro de 1972. Em fevereiro de 1973, com apenas 17 anos.

TEXTOS : RUBEM AZEVEDO LIMA


RUBEM AZEVEDO
LIMA


Viagens ao fim da história

Autor(es): Rubem Azevedo Lima

Correio Braziliense - 09/05/2011


Do fim de abril ao começo de maio, o mundo e o Brasil deslizaram para o passado profundo, em três ocasiões: o casamento shakespeareano do príncipe com a burguesa, na velha Albion; a beatificação medieval do papa João Paulo II, no Vaticano; e a morte brechteana de Osama bin Laden, no Paquistão, ao estilo de agentes americanos contra os inimigos dos EUA. Nesse episódio, foi-se mais longe do que nos outros.

 O Osservatorio Romano lembrou que o eremita Pietro de Marrone, eleito papa com o nome de Celestino V, em 1294, renunciou, meses depois, para voltar ao eremitério, mas foi preso pelo papa Bonifácio VIII na torre da igreja, até morrer. Depois, o papa Clemente V, em 1313, 20 anos após sua morte, o beatificou. A igreja, à época, devia enfrentar problemas incríveis, para não se entender.

 Já o casamento do príncipe William com a “princesa” Kate, um dia antes, foi uma festa de arromba, para ninguém botar defeito. Milhões de pessoas nas ruas de Londres, à frente da Abadia de Westminster, festejavam o casório. No dia seguinte ao dessa festa, tudo foi
superado pela morte de Bin Laden, numa cidade pouco abaixo da Báctria, que Alexandre, o Grande, conquistou no ano 330 a.C.

 O que pode ter passado pela mente do leitor, que acompanhou os três acontecimentos, dois festivos efusivamente, mas, de repente, uma tragédia, diante da qual, porém, não houve choro nem vela, mas mais risos e gargalhadas de alegria, diante — queiram ou não — de um assassinato? Quem pode entender as razões do ser humano?

 No Brasil, de muita criminalidade
anual impune, pode-se admitir o gesto de vingança dos americanos contra os árabes, que derrubaram dois edifícios-torres, em Nova York, matando quase três mil inocentes.

 Os árabes fizeram maravilhas em Portugal e na Espanha, mas foi fácil expulsá-los desses países. Para Herculano, historiador, as desavenças entre árabes eram regra geral. Elas até aumentaram, mas os jovens, hoje, maioria dos árabes, exigem liberdade e trabalho, para serem e fazerem o que quiserem. No fim, tal sonho sempre vence as forças que o reprimem.

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UM CADINHO CHAMADO BRASIL

Autor(es): Rubem Azevedo Lima

Correio Braziliense - 16/05/2011


Apesar de episódios que mostram a intolerância de muita gente no país, em relação a etnias, crenças religiosas, posições políticas, opções sexuais e o que mais seja, pode-se dizer que somos um cadinho fantástico. Ele reúne portugueses, indígenas, africanos, italianos, alemães, poloneses, japoneses, chineses, árabes, judeus etc. Enfim gente de todo o planeta, portanto propícia, por isso mesmo, a ter, sem falar das loucuras futebolísticas internas e externas, tolerância com seus semelhantes, sejam eles quem forem, venham de onde vierem.
Já houve tempo em que se forjaram, politicamente, preconceitos entre sulinos e nordestinos, cariocas e paulistas. Até mesmo em algumas cidades, como Rio e Santos, os endinheirados repeliam os chamados “farofeiros”, que sujavam suas praias.
Este carioca que lhes fala frequentava, no Rio, a praia do Caju (no fundo da baía), na qual D. João VI banhara suas enxúndias. Quando ia à de Copacabana, as banhistas faziam cara feia a forasteiros. Mas ele valorizava as belezas locais e confortava as feias. Com tal espírito, nunca se deu mal ali, nos anos dourados, antes de casar-se com uma filha de portugueses, sancristovense — modéstia à parte —, carioca das mais bonitas.
Na revolução constitucionalista de São Paulo, os vitoriosos de 1930 inventaram que os paulistas queriam separar-se do Brasil, pondo-os, portanto, como inimigos do resto dos brasileiros. Houve, em nossa história, outros movimentos separatistas, no Nordeste e no Norte, bem como em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Pouca gente desses estados e regiões, porém, gostaria de não ser brasileira. Eram coisas inadmissíveis.
Quando a Europa abriu a descendentes de seus nacionais direito à dupla nacionalidade, mesmo na pior fase de desemprego, raros brasileiros aceitaram isso ou o fizeram, como D. Marisa, mulher de Lula, filha de italianos, para “melhorar as chances de vida dos seus filhos”.
Nas boas escolas públicas primárias ou secundárias bem cuidadas, éramos amigos. Hoje, dada a ruindade do ensino oficial, tais escolas, apesar do zelo dos mestres, não impõem respeito às diferenças entre alunos e alguns viram fera. Até a Praia de Copacabana aprendeu essa lição.

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Brasil: ficha suja

Autor(es): Rubem Azevedo Lima

Correio Braziliense - 23/05/2011

Este ano, com tantos escândalos, o Brasil pode piorar sua posição na lista da Transparência Internacional (TI), sobre honestidade e corrupção das nações. Em 2010, ficamos no 69º lugar de honestos, com 3,7 pontos, com Itália, Geórgia, Cuba, Montenegro e Romênia. O país abaixo de nós, com 3,6, foi a Bulgária, de onde são os pais de Dilma Rousseff.
]No quadro da honestidade decrescente, a faixa entre 3 e 3,9 é representada pela cor vermelha, como sinal de perigo, no tocante à evidência dos sinais de corrupção.
Como a TI verá as últimas decisões da comissão de ética do Senado, do mesmo órgão do Executivo e da Advocacia-Geral, cada vez menos da União que do governo, e a dos senadores governistas, sobre a denúncia feita pela Folha de S. Paulo, do crescimento de mais de 20 vezes, em quatro anos, do patrimônio de Palocci, graças a consultorias feitas por ele, mas não explicadas até agora, como exige a oposição?
Dos petistas, no Senado, só o senador Wellington Dias, do Piauí, embora dizendo confiar no ministro, exigiu dele provas irrefutáveis para justificar o milagre da multiplicação dos pães consultoriais de Palocci.
Nos EUA, a Justiça aceitou, após investigação perfunctória, a denúncia de uma camareira de hotel, em Nova York, contra Strauss-Kahn, diretor-gerente poderoso do FMI, acusado pela vítima de atacá-la sexualmente, em quarto fechado e sem testemunhas. Só a sua mulher, seu advogado e alguns franceses acham que ele não teria atacado a camareira.
A visão das coisas erradas, no Brasil, é mais generosa. Um médico paulista atacou suas pacientes e foi acusado, além disso, de fazer inseminações antiéticas, com doações de outras mulheres, gerando, assim, filhos biológicos de um pai e duas mães. Esse médico fugiu do país, graças a uma decisão do Judiciário.
Com os escândalos não citados por falta de espaço, a visão do Brasil, pela TI, em 2011, pode ficar pior que a do Irã em 2010 (nota 2,2), cujo número de ministros, Ahmadinejad, agora, pôs abaixo dos nossos. O Congresso blindou o ministro e não a Amazônia, que devastam?! Itamar neles: licenciem Palocci, apurem tudo e o reponham, se inocente.


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A contramão política

Autor(es): Rubem Azevedo Lima

Correio Braziliense - 30/05/2011


A oposição, no Congresso, apesar do rolo compressor do governo, está bem na batalha pela criação da CPI sobre multiplicação espantosa do patrimônio do ministro Antônio Palocci, em quatro anos. Sinal disso foi a preocupação da presidente Dilma Rousseff e seus correligionários “parecerem” ter barganhado a aprovação do novo Código Florestal em troca da blindagem do ministro.

“Temos de ganhar pelo voto” — pediu a presidente, segundo Maria Lima, de O Globo. Dilma repetiu, em termos, o dito atribuído a César, sobre sua mulher Pompeia, após um gaiato, vestido de mulher, ser pego no palácio em que o futuro imperador morava: “Não basta à mulher de César parecer séria, ela deve sê-lo de fato”.

Não se sabe se Dilma, tal qual César, que depois se separou de Pompeia, para poupar-se politicamente ante o povo romano, se livrará de Palocci, a fim de não se queimar com os brasileiros. Até Lula intervir em seu governo, isso parecia certo, graças à denúncia da Folha de S. Paulo e à teimosia democrática da oposição. Uma e outra ajudavam a presidente a salvar seu mandato.

Dilma enfrentou problema igual ao de agora, criado por Palocci, quando, ministra da Casa Civil, aguentou as trapalhadas de uma secretária que a levou quase à derrota eleitoral. Apesar de Lula, trocará Dilma o resto de seu mandato para salvar ministro que poderia fazer tudo, menos faltar à confiança que ela depositou nele, ao nomeá-lo?

Na reunião com os aliados, Dilma pediu a blindagem de Palocci pelos partidos que a apoiam no Congresso. Essa era praxe da ditadura militar, que ela combateu. Sob pressão de Lula, maculará ela tal passado?

Após ponderações convincentes dos oposicionistas Álvaro Dias, Jarbas Vasconcelos e Mozarildo, a sensibilidade política da gaúcha Ana Amélia pediu a “solução Itamar”. Este, no governo, afastou um ministro sobre o qual pairavam suspeitas, que mandou apurar. Eram falsas. O ministro voltou ao cargo. Itamar elegeu FHC, derrotou Lula, que demitiu Palocci e hoje o defende, no dia em que a Justiça, onze anos depois, prendeu Pimenta Neves. Lula quer impor seu vaivém delirante de bom-mocismo.


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Começo do fim de um mito

Autor(es): Rubem Azevedo Lima

Correio Braziliense - 06/06/2011



Ao intervir no governo da presidente Dilma, Lula fez o que tanto queria: ser uma espécie de Rasputin político de nossa czarina. É difícil dizer quem se saiu pior nesse episódio: ele, como o aventureiro russo, que se dizia purificador de ambientes, ou ela, que aceitou tão estranha taumaturgia. Ambos foram criticados severamente, pelo espetáculo que ofereceram ao Brasil e ao mundo.

Por sorte de Dilma, felizmente, dois de nossos partidos comunistas estão alinhados, e bem, com o governo. Seus Lenines e Trotskis apóiam incondicionalmente a czarina. Quem abriu as baterias mais fortes contra o ex-presidente foi seu ex-ministro Ciro Gomes. Este, induzido por Lula, transferiu o título de eleitor no Ceará para São Paulo, acreditando no apoio lulista à sua candidatura a governador desse estado, em 2010.

Não sem razão, Ciro condenou o quixotismo intervencionista de Lula, que, a seu ver, fragilizou a criatura por ele mesmo lançada candidata e eleita presidente, como a pessoa mais capacitada a governar o país. Dilma nasceu só da cabeça de Lula, não de uma concha de madrepérola, como nas lendas gregas, que ele achasse na praia de Guarujá.

Ele impôs a candidatura de Dilma a seu partido e agora, caprichosamente, age como se reparasse erro de sua pupila. Mas, ao fazê-la defender Palocci, dá um passo arriscado na política brasileira, perigoso para os dois.

Ao se expor, exageradamente, pró-Palocci, como salvador da pátria, o ex-presidente não tem a quem responsabilizar por esse fracasso, que põe em xeque sua suposta competência em escapar incólume dos erros que cometeu, quando na Presidência.

Sobre os ganhos espantosos da consultoria de Palocci, a pressão de Lula sobre Dilma e desta sobre o Congresso, reavivou, na memória popular, o caso do caseiro que denunciou as estroinices do ex-ministro, forçando o ex-presidente a demiti-lo. Agora, porém, o lado cantinfliano e trapalhão de Lula, em fato muito mais grave, faz — quem diria? — exatamente o contrário e sai em defesa fervorosa de Palocci. Francamente! O mito de sua suposta infalibilidade em acertos dá sinais de desmilinguir-se, inapelavelmente, e ameaça levar de roldão o governo Dilma.

 


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Catástrofes anunciadas

Autor(es): Rubem Azevedo Lima
Correio Braziliense - 13/06/2011

Ao contrário da Alemanha, que resolveu desativar suas usinas nucleares, o Brasil constrói a terceira usina, em Angra dos Reis, a 150km do Rio, para produzir energia elétrica, numa enseada que os indígenas chamavam, em tupi-guarani, de Itaorna, ou seja Pedra Podre, em português.
Na Amazônia, bastante devastada, inundamos 500km² do território paraense, para construir a usina hidrelétrica de Belo Monte, contra a qual estão os ambientalistas responsáveis, não só os que pensam em travar o desenvolvimento nacional.
Perfuramos o oceano, levados pela miragem do pré-sal, sem avaliar os danos que isso nos pode causar, apesar do recente vazamento de óleo no litoral do México, em poços menos profundos que os nossos. Livre de Palocci, Dilma, agora, terá de resolver esses problemas.
Na semana passada, um programa da NatGeo mostrou perfurações petrolíferas nos oceanos ou em terra, à procura de minérios, além da construção de barragens na China e noutros países. Tudo isso resultou em terremotos e fenômenos devastadores para seus povos.
A portuguesa Maria Luisa Pedroso, em estudo de 2008, sobre o terremoto de Lisboa, em 1755, muito antes do documentário da NatGeo, contou o desespero das vítimas, cujos desregramentos morais foram responsabilizados pelo ocorrido, por muçulmanos, protestantes e católicos. Enquanto Pombal reerguia Lisboa, pastores, sacerdotes de Alá, e o padre Malagrida aumentavam as dores do povo, atribuindo-lhe a tragédia. O rei D. José I pediu ao papa a indicação de santo protetor contra terremotos e foi atendido. Mas a natureza do país, até então intacta, após o terremoto, vindo do mar, teve mais um ano de 500 tremores de terra.
Nos projetos acima citados, que envolvem a natureza, há o risco de ocorrer isso. Portanto, os brasileiros devem cobrar do governo mais do que ele faz e que acha seguro, pois tais iniciativas não têm segurança absoluta. Pela importância do assunto e até por possíveis implicações suspeitas, no caso, Dilma, agora livre, devia propor ao Congresso, para esses projetos, consultas ao povo. Este, grato à presidente e sem nenhum interesse escuso, diria se os aceita ou não.