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Eu vivenciei a ditadura. Nasci em 1955 e, com apenas 9 anos de idade, vi a estagnação do processo democrático com a cassação dos grandes políticos brasileiros, como é o caso de Juscelino Kubitschek e muitos outros. Eu via as notícias e me empolgava no sentido de saber por que as pessoas que faziam grandes feitos e obras eram perseguidas e tudo o mais. Meu pai era um homem semi-analfabeto, mas era muito politizado: ouvia "Voz do Brasil" e discutia com a vizinhança sobre os interesses do Brasil com relação aos Estados Unidos, a Rússia etc. Eu o escutava sempre discutindo, no barbeiro, na feira. Eu cheguei a Brasília em uma situação muito delicada, pois acabara de perder meu pai, no dia 9 de setembro de 1972. Em fevereiro de 1973, com apenas 17 anos.

TEXTOS: Rubem Azevedo Lima


Rubem Azevedo Lima
Correio Brasiliense
04/07/2011
 Devastação da natureza

Apesar das advertências de ambientalistas, com argumentos científicos, a devastação da natureza prossegue, no Brasil e no mundo, alimentada pela ignorância de muitos, pela ganância especulativa ou pela cegueira política.
Há dias, sem referir-se às obras da usina hidrelétrica de Belo Monte, que inundará mais de 500km² da floresta amazônica, uma emissora de tevê mostrou a invasão do mar que destrói, cada vez mais, ano a ano, as casas numa praia de Fortaleza, no Ceará.  Obviamente, os moradores das habitações praieiras, pescadores pobres ou gente rica, têm noção de que seus dramas não diferem muito dos que afligem a população de Belo Monte.
A ignorância, a ganância e a cegueira mencionadas acima devem chocar cearenses e paraenses.  Imagine só, leitor: em 1755, Portugal e o mundo civilizado lamentaram o terremoto de Lisboa, considerando-o castigo divino ao comportamento pecaminoso dos portugueses.  Emanuel Kant, alemão de Koenigsberg, estudioso de teologia e ciências, além de grande filósofo, fulminou essa conclusão.
Sobre o ocorrido em Lisboa, ele disse: "Recuso-me a reconhecer as regras da perfeição da natureza, globalmente perspectivada, considerando que tudo tem de estar disposto em função de nossas conveniências.  O ser humano tem de aprender a adaptar-se à natureza e não pretender que ela se adapte a ele".  Noutras palavras: o homem não pode desnaturar a natureza.
Mas a Alemanha desse homem notável ignorou, até hoje, sua lição.  Só passados 255 anos do maremoto que destruiu Lisboa, outro fenômeno igual, nos mares do Japão, atingiu usinas nucleares neste país e acordou os alemães, que decidiram acabar com todas as suas usinas.
Já o Brasil constrói uma terceira usina, em Angra dos Reis, cidade à beira-mar, praticamente a um pulo do Rio de Janeiro, situada, em linha reta, a menos de 150km dela.  A emissão radioativa das usinas de Fukushima, afetadas pelo maremoto, de março último, atingiu Tóquio, a 240km de distância.  Que risco para o Rio e seu povo, às voltas com obras para o mundial de futebol em 2014 e olimpíadas de 2016.  Que o sábio Kant ilumine o governo, políticos, empresários e cientistas, para livrar-nos dessa desgraça.

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Rubem Azevedo Lima
Correio Brasiliense
11/07/2011


Julho fatídico

O português Camilo Castelo Branco, em sua Mulher fatal, disse que "o primeiro amor faz julho, em outubro". Este repórter faria julho não existir, pelos males ocorridos nele, como a morte de Itamar Franco e a Universidade de Brasília estar virando centro escolar antidemocrático.
Nela, o reitor e a maioria dos estudantes, segundo o repórter Gustavo Ribeiro, da revista Veja, fazem isso com a liberdade de pensamento. Como primeiro presidente da entidade que congregou os estudantes da UnB, modesto aluno temporão do curso de letras — não concluído em razão da ditadura —, este repórter lhes faz um apelo: parem, na UnB, com essa violência contra a cultura e a inteligência.
A inteligência coletiva é dada a tolices, como na luta dos gladiadores, no Coliseu de Roma, entre uns e outros, ou contra feras. O imperador ocasional indagava à plateia se devia matar ou não o combatente vencido. A massa erguia o polegar, pedindo sua morte.
Vocês, jovens, estão fazendo o que a ditadura fez com os estudantes da UnB, em l965, e contra mais de 200 professores, ao demiti-los ou mandar prendê-los.
No 25º Congresso da UNE, em 1963, em Quitandinha, falando pelos colegas da UnB, embora em litígio com o reitor Darcy Ribeiro, este escriba lembrou, dele, frase lapidar, segundo a qual o princípio básico da universidade era e seria sempre o direito à liberdade de pensamento.
Quando José Serra se elegeu presidente da UNE, esbirros ligados ao grupo que desfecharia o golpe militar, no ano seguinte, desferiram tiros a esmo contra sua eleição, por dar ele apoio às reformas de base, pregadas então pelos governadores Brizola (Rio), presente ao Congresso, e Arrais (Pernambuco), mas tidas como comunistas.
Sabemos o que sobreveio em 1964: 21 anos de ditadura, sem liberdade de pensamento, fato que parece repetir-se agora, na UnB. Ofendem o professorado e o proibem de exercê-la livremente. Jovens, não repitam 1964. Em memória de Itamar, sigam seu exemplo de honradez na política brasileira, honrando a democracia na UnB, cumprindo-a sem violações.
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Rubem Azevedo Lima
Correio Brasiliense
18/07/2011

Caminho da salvação

 
Espanta-se a Espanha com a corrupção que, no Brasil, domina a política parlamentar e se espalha país afora. Em 7 de julho, em suas notas, Luiz Carlos Azedo, no Correio Braziliense, conta que o espanhol José Bono Martínez, presidente das Cortes Gerais da Espanha, em conversa com José Sarney, estranhou a coalizão de 17 partidos no apoio ao governo.
No dia seguinte, em El País, o jornalista Juan Arias, num artigo de meia página, também fala desse assunto e indaga, já no título: "Por que os brasileiros não reagem à corrupção de seus políticos?" No texto, ele faz outra pergunta: "Por que não existe um movimento dos indignados?" A seu ver, tal fato deve-se à apatia dos jovens.
Cabe informar a ambos que a imprensa brasileira, dia após dia, noticia novos casos de corrupção explícita. Cada qual mais escabroso que os outros. Nos jornais e revistas, o espaço de cartas dos leitores está cheio de indignações contra a corrupção, os corruptos e os corruptores.
Perto do espanto dos leitores, o de Bono soa irônico, por estranhar que dos 484 parlamentares, 373 sejam governistas, de partidos de aluguel ou sem maiores compromissos com a nação. Morto Itamar, a oposição só tem 110 parlamentares. A incrível coalizão governista resulta, claro, de novos alopradismos e mensalismos disfarçados.
Ainda assim, os coligados de que falou Bono lutam como lobos famintos pelas benesses oficiais. Muitos atacam os botins mirabolantes do Tesouro, como se viu agora, no Ministério dos Transportes. Os prejuízos feitos por esses passam muito dos causados pelos envolvidos no primeiro mensalão dos parlamentares, que apoiaram o governo Lula durante os dois mandatos e agora apoiam Dilma.
Dos velhos mensaleiros, o Supremo processa 37 — parlamentares, assessores, funcionários, próceres de vários partidos —, com base em denúncia do procurador da República. Este disse que tal grupo é uma quadrilha. O julgamento do Supremo pode ser o começo de uma boa limpeza no Congresso. O que, se não for a salvação nacional, contra toda a corrupção, ao menos poderá reduzir seu escandaloso e desmesurado tamanho, interrompendo, felizmente, a impunidade na corrupção política.
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Rubem Azevedo Lima
Correio Brasiliense
25/07/2011

As queixas de Lula 

Com cada vez  mais rancor, o ex-presidente Lula reclama da imprensa, que o critica até hoje, passados quase sete meses do fim de seu mandato.

A rigor, Lula age como se ainda governasse o país. Segundo alguns áulicos, ele telefona, com frequência, para a presidente Dilma ou procura encontrar-se com ela, coisa que nunca um ex-presidente fez com o sucessor, como diria o próprio Lula, em seus autoelogios freudianos.

Para ajudar Dilma, Lula faria melhor se ficasse na obscuridade. Disso, porém, ele gosta até menos do que dos críticos que o azucrinam, pois estes, ao citarem-no, ainda lhe dão oportunidade de aparecer.
Dia a dia, Dilma, sua herdeira política, tropeça nos malfeitos de Lula, que a perturbam, ou nos não feitos por ele, ao bajular os movimentos sociais, em geral cooptados com favores abusivos.

Agravaram-se, por isso, nossas mazelas políticas, parlamentares, sindicais, ambientais, culturais, rodoviárias, aeroviárias, a segurança pública, a saúde e a educação. Destas duas desviaram-se 70% de seus recursos! Dilma gastará muito tempo, corrigindo o que Lula fez de errado. A sujeira que ele deixou no Dnit exige dela que mande fazer o mesmo em todas as outras áreas da administração pública para limpar o Brasil o mais completamente possível.

Tudo isso, mais a gastança do antecessor e a indicação de ministros corruptos para o ministério de Dilma — três já foram demitidos — constitui a pesada herança do ex-presidente. Ele, além do alto custo com que manteve suas alianças no parlamento, aplicou dinheiro em empréstimos favorecidos ou doações a países pobres, pensando em obter deles apoio para ganharmos uma cadeira cativa na cúpula da ONU.

Nesse particular, Lula não hesitou em fazer acordos até com ditadores, desmoralizando as melhores tradições de nossa política de relações internacionais e o espírito da Constituição cidadã de 1988, no tocante aos regimes de exceção.

Pesados o positivo e o negativo dos dois mandatos de Lula, Dilma sabe: hoje, logrado pela propaganda oficial de obras e conquistas não feitas, o Brasil está no vermelho moral frente ao seu povo. Essa é a sua dívida.
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Rubem Azevedo Lima
Correio Brasiliense
01/08/2011


Mais um escândalo

Outro grande escândalo, agora sobre a Agência Nacional do Petróleo, a ANP, foi publicado pelo último número da revista Época, mas contestado pela agência, sob alegação de ser assunto que a imprensa já apreciou como se fosse, pois, questão resolvida.
Sinceramente, este repórter, da mesma forma talvez que muitos leitores, não se esquece do desfecho negativo desse assunto. Lembramo-nos, todos, das muitas revelações de descobertas de jazidas de pré-sal no país, embora, após algum tempo, as ações da Petrobras caíssem, espantosamente, de cotação nas bolsas, inclusive a brasileira.
Por ocasião da primeira denúncia sobre esse assunto, a oposição, no Congresso, ainda ao tempo do então presidente Lula, quis abrir inquérito parlamentar sobre a Petrobras, mas foi barrada pelos governistas.
Vejam um exemplo: o presidente da CUT, em agosto de 2009, admitiu que a Petrobras devesse "ter controle da nação, mas não o controle do PSDB e do ex-PFL". E, mais adiante: "Num cenário de crise internacional e sendo a Petrobras o maior investidor do país — 92% de todos os investimentos puxados por estatais e com desembolso maior que a própria União — a oposição quer fazer o Brasil patinar em meio à crise".
Fez-se um alarido preconceituoso contra os partidos políticos de oposição, como se todos quisessem entregar o Brasil ao capital estrangeiro. Na ocasião, até a imprensa, "certa imprensa" — como diziam — "estava traindo o país". Mas o controle que a CUT defendia nunca se fez, e chegamos à nova denúncia, sob o governo da presidente Dilma.
Aos que fazem crítica maligna a quem não a merece, aconselha-se o que o personagem do romance Equador, do português Miguel Tavares, pensou em propor ao assessor preconceituoso: "Ter ao menos lucidez, para nunca ser levado a sério". Isso bastaria à boa gente injusta do PT.
Para o político e jornalista apaixonado pela democracia, Hermano Alves, morto em Lisboa, nesta data, há um ano, a paixão política leva a exageros o juízo que os adversários fazem uns dos outros, na luta pelo poder. O episódio da Petrobras comprova o que Hermano dizia.
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Rubem Azevede Lima
Correio Brasiliense
08/08/2011

Boa filosofia para Dilma

O governo Dilma preferiu desgastar-se a engrandecer-se. Em vez de livrar-se do estilo de Lula, imitou-o, mas ferindo a democracia, ao proibir uma CPI no Senado, sobre corrupção nos ministérios.
Este repórter lamenta a vergonha desse episódio, mas, sobre governar, oferece à presidente sábia sugestão do português Antônio Damásio, um dos melhores neurologistas do mundo. Suas pesquisas sobre isso o levaram a escrever o livro Ao encontro de Espinosa.
No prefácio dessa obra, ele pergunta: "Por que Espinosa? E responde: "Ele é profundamente relevante para qualquer discussão sobre emoção e sentimentos humanos. A alegria e a tristeza foram dois conceitos fundamentais na sua tentativa de compreender os seres humanos e sugerir maneiras de a vida ser melhor vivida".
Segundo Antônio Damásio, "a visão atual toma em conta o progresso ocorrido nas ciências sociais, nas ciências cognitivas e na biologia. Por essa razão, terá de construir-se, nessa nova perspectiva, qualquer valor prático, por um motivo simples: o êxito ou fracasso da humanidade, em grande parte, depende do modo como o público — atenção — e as instituições que governam a vida pública possam incorporar a essa nova perspectiva da natureza humana, princípios, métodos e leis."
Nesse ponto, Damásio assinala: "Compreender a neurobiologia das emoções e dos sentimentos é necessário para essa formulação de princípios, métodos e leis, capazes de reduzir o sofrimento humano e de engrandecer o florescimento humano."
Até recentemente, dizia-se que os brasileiros se achavam o povo mais feliz do mundo. Hoje, novas pesquisas mostram que a maioria de nossa gente está em depressão, gerada, talvez, pela maré de corrupção que varre o país. A receita de Damásio propõe a todos os povos, com carinho e compreensão, apenas um estado democrático ideal, marcado pela liberdade da palavra, que a filosofia de Espinosa consagrou com simplicidade: cada um pense o que quiser e diga o que pensa. Só isso. Como se vê, o cientista português põe a ciência a serviço até da política. A democracia limpa, presidente, é o melhor remédio para qualquer povo.